Bioeconomia no Pará: um caminho verde para o futuro da Amazônia
Combinando saberes tradicionais, inovação científica e políticas públicas, o Pará se destaca em um modelo econômico que preserva a floresta e beneficia as comunidades locais.
A bioeconomia é mais do que um conceito; ela é uma das chaves para o futuro da maior floresta tropical do mundo. Ao focar no uso sustentável dos recursos naturais, ela cria produtos e serviços inovadores sem prejudicar a biodiversidade ou o equilíbrio ecológico. No coração da Amazônia, o Pará está liderando essa revolução verde, provando que é possível impulsionar o desenvolvimento econômico enquanto se preserva a riqueza natural da região. E o mais importante: essa transformação é fruto de um esforço coletivo, que une saberes tradicionais, ciência, tecnologia e o apoio do poder público. Ao adotar a bioeconomia, o Pará se torna um exemplo vivo de como transformar a floresta em um motor de prosperidade, sem abrir mão da responsabilidade ambiental e social.

O que é Bioeconomia na Prática?
A bioeconomia pode ser explicada de maneira simples, trata-se de um modelo econômico baseado na utilização de recursos biológicos – como plantas, animais e microrganismos – para criar bens e serviços. O conceito visa substituir a exploração predatória e incentivar a produção de maneira sustentável, com foco em inovação, preservação ambiental e geração de emprego.
No Pará, a bioeconomia está se tornando uma força crescente. Diversos setores estão adotando práticas que garantem a sustentabilidade da Amazônia e, ao mesmo tempo, gerando oportunidades econômicas para as comunidades locais. Vamos entender alguns exemplos práticos:
Produtos de Beleza e Cosméticos: Marcas que utilizam ingredientes da Amazônia, como açaí e cupuaçu, estão explorando as riquezas da floresta para criar produtos inovadores, com impacto positivo para o meio ambiente e as comunidades. Um exemplo desse modelo de produção aqui no Pará é a empresa ParaOil, 100% paraense, especializada na extração sustentável de óleos e manteigas amazônicas. Fundada pelo CEO Gilberto Nabumasa, que, durante o Festival Bioamazônia Inovação e Sustentabilidade 2024, realizado este mês, em Belém, explicou a importância da valorização dessa modalidade de negócios na Amazônia.
"Estamos localizados na cidade de Acará, e nossa empresa nasceu do sonho de contribuir para o desenvolvimento local e das comunidades da região, mas também da necessidade de promover um desenvolvimento social e econômico. Como filho de agricultor, sempre senti na pele a necessidade de inovar com produtos vindos da floresta. Hoje, nossos produtos têm aplicações nas indústrias de alimentos e cosméticos. Para nós, o que significa ter a floresta em pé é a capacidade de sobreviver economicamente, mantendo o acesso à natureza. Com esse trabalho, conseguimos agregar cerca de 30% da renda das famílias locais. Além disso, levamos nossos produtos com certificação orgânica e vegana para os mercados nacional e internacional. Utilizamos biotecnologias, trabalhando com matérias-primas da floresta," afirmou Nabumasa.

Alimentos e Bebidas: O Pará é um dos maiores produtores do Brasil de açaí, cupuaçu e guaraná, entre outras iguarias únicas. Muitas cooperativas locais estão transformando esses produtos em itens de valor agregado, com uma forte presença no mercado local e internacional. A paraense Joanna Martins é um exemplo de como a gastronomia da Amazônia pode impulsionar esse mercado. Durante a Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, realizada semana passada, em Belém, ela apresentou o exemplo da Manioca, empresa com 10 anos de mercado, que vem incentivando a bioeconomia no setor.
"Para fomentar o crescimento da nossa empresa e o crescimento dos agricultores familiares que trabalham com a gente, nós fizemos uma parceria, que completou um ano, com um fundo de investimento japonês, e somos a primeira empresa fora do Japão a ter esse investimento. Com esse aporte financeiro, passamos de 300 pontos de venda dos nossos produtos para 1.300 e isso, além de representar um crescimento no mercado, ele representa mais famílias produzindo com consciência ambiental, gerando renda pelos interiores da Amazônia paraense e mantendo a floresta de pé," afirmou Joanna Martins.
O Pará tem uma oportunidade única de brilhar na COP30, que será realizada em Belém em 2025. O evento será uma vitrine para mostrar como a bioeconomia pode ser uma solução não só para a Amazônia, mas para o planeta. O estado, com sua biodiversidade única e políticas públicas voltadas para a sustentabilidade, é um exemplo claro de como a bioeconomia pode gerar desenvolvimento sem prejudicar a natureza.
Para Fernanda Rennó, doutora em Planejamento Territorial e responsável pelas frentes de Bioeconomia e Cultura da Uma Concertação pela Amazônia, em sua fala durante um dos painéis da Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, comentou sobre a escalabilidade dos projetos de bioeconomia na Amazônia.
"A ideia de escala na Amazônia deve ser encarada de uma outra forma, diferente da ideia de quantidade em larga escala. Esse processo produtivo deve ser feito considerando as características da região," afirmou Fernanda. Com sua fala, ela buscou trazer o entendimento de que a bioeconomia na Amazônia não deve seguir os mesmos modelos de produção em larga escala que dominam outras regiões do mundo, mas sim adaptar-se às características da floresta e das comunidades locais, respeitando as vivências, sazonalidades e cada região.
Os impactos global e local da Bioeconomia
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a bioeconomia é essencial para o desenvolvimento sustentável global. Ela oferece uma forma de integrar as necessidades econômicas com a preservação ambiental, fundamental para combater as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade. No contexto da Amazônia, a bioeconomia é especialmente relevante, pois a região abriga a maior floresta tropical do mundo e uma biodiversidade única.
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE Pará tem demonstrado em seus relatórios que a bioeconomia pode ser um motor de desenvolvimento econômico para o Pará, além de ser um modelo replicável em outras partes do Brasil e do mundo. Projetos de bioeconomia na região geram novos negócios, oportunidades de emprego e promovem a conservação dos recursos naturais.
Segundo o diretor-superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno, durante o painel “Oportunidades e Negócios na Amazônia”, dentro das discussões do II Fórum Varanda da Amazônia, intitulado “A Amazônia em Nós”, realizado em Belém este ano, ele destacou as ações no sentido de fortalecer os pequenos negócios paraenses para a COP30.
"O nosso objetivo é muito claro: é defender a Amazônia e defender os pequenos negócios. Grande parte dos negócios no mundo é prioritariamente composta por mais de 90% de pequenos negócios, e se nós queremos fazer a transformação do mercado, por exemplo, a pauta prioritária precisa ser dos pequenos negócios. Então, nós estamos aqui para isso, para referendar a Amazônia," destacou Rubens Magno.