Pela primeira vez na história, a liderança da Igreja Católica será exercida por um norte-americano. O cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi escolhido como novo papa nesta quinta-feira (8), após quatro escrutínios realizados durante o conclave iniciado no dia anterior. Ele adotará o nome de Leão XIV.
A confirmação da escolha veio com a tradicional fumaça branca que saiu da chaminé da Capela Sistina por volta das 13h07 (horário de Brasília), sinalizando que o colégio de cardeais havia chegado a um consenso. Para ser eleito, Prevost precisou conquistar pelo menos dois terços dos votos — o equivalente a 89 dos 133 cardeais eleitores.
O anúncio oficial foi feito pelo cardeal Dominique Mamberti, seguindo a tradição litúrgica: “Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam” — “Anuncio-vos uma grande alegria: temos um papa”. Em instantes, o novo pontífice deverá aparecer na sacada central da Basílica de São Pedro para saudar os fiéis e conceder a bênção Urbi et Orbi (à cidade e ao mundo).
Perfil de Leão XIV
Nascido em Chicago, Prevost tem cidadania também peruana, obtida em 2015 após anos de missão religiosa no país. Entrou para a vida religiosa aos 22 anos e se formou em teologia e direito canônico em Roma. Foi ordenado padre em 1982 e logo depois seguiu para o Peru, onde atuou em comunidades carentes e enfrentou de perto momentos turbulentos da história política local, inclusive durante o regime de Alberto Fujimori.
Sua trajetória inclui passagens por cargos de liderança tanto na Conferência Episcopal Peruana quanto na Cúria Romana. Em 2014, assumiu a Diocese de Chiclayo, ao norte de Lima, onde permaneceu por quase uma década. Em 2023, foi nomeado prefeito do Dicastério para os Bispos, um dos mais importantes órgãos da Santa Sé, responsável por nomeações episcopais em todo o mundo. No mesmo ano, tornou-se cardeal.
Apesar do perfil discreto, Prevost é conhecido por sua visão reformista e afinidade com os princípios de renovação pastoral estabelecidos por Francisco. No mês passado, em entrevista ao Vatican News, destacou que a missão da Igreja precisa acompanhar as transformações do mundo atual: “Não podemos parar ou retroceder. O Espírito Santo nos chama a entender como a Igreja deve ser hoje e no futuro”.
Acusações e trajetória na Cúria
A trajetória de Leão XIV não passou incólume por controvérsias. Em 2023, foi mencionado em denúncias envolvendo suposto acobertamento de abusos cometidos por dois padres no Peru. As acusações partiram de três mulheres que afirmaram ter sido vítimas na infância. Prevost teria recebido os relatos em 2020 e encaminhado formalmente ao Vaticano dois anos depois. Um dos sacerdotes foi afastado preventivamente e o outro já estava inativo. A diocese nega qualquer omissão, alegando que os procedimentos foram seguidos conforme as normas canônicas.
O caso segue sob apuração da Santa Sé, sem conclusão até o momento. Apesar disso, sua reputação como gestor firme e sensível a questões sociais se manteve, sendo frequentemente citado como um dos nomes cotados para a sucessão de Francisco.
Um papa entre mundos
Com uma vida dividida entre os Estados Unidos, a Europa e a América Latina, Prevost simboliza a transição entre o centro histórico da Igreja e suas periferias em expansão. Seu perfil multicultural, sua fluência em espanhol e sua atuação junto aos pobres e comunidades indígenas no Peru reforçam a expectativa de um pontificado voltado à inclusão, ao diálogo e à continuidade da linha reformista de seu antecessor.
Leão XIV assume o papado em um momento de grandes desafios: queda de fiéis em regiões tradicionais, escândalos de abuso sexual, debates sobre o papel das mulheres, mudanças climáticas e polarizações internas na própria Igreja.
Como foi o conclave
A escolha do novo pontífice ocorreu após quatro rodadas de votação, entre quarta (7) e quinta-feira (8), na Capela Sistina. Nas primeiras três votações, a fumaça preta indicava que não havia consenso entre os cardeais. Foi somente após o quarto escrutínio que o sinal branco anunciou ao mundo o novo papa.
Entre os 133 cardeais votantes, sete eram brasileiros: Dom Paulo Cezar Costa, Dom Leonardo Ulrich Steiner, Dom Odilo Scherer, Dom Jaime Spengler, Dom Sérgio da Rocha, Dom Orani Tempesta e Dom João Aziz.
Agora, os olhares se voltam ao Vaticano e ao início do pontificado de Leão XIV, que terá a missão de conduzir a Igreja Católica em um século de transformações profundas — e responder ao apelo de milhões de fiéis por uma Igreja mais justa, transparente e próxima das realidades do mundo contemporâneo.
