O Mercado de Carbono: Uma Oportunidade para a Amazônia e o Papel Pioneiro do Pará

Com a COP30 se aproximando e sendo sediada em Belém, em 2025, o debate sobre o mercado de carbono ganha cada vez mais relevância para a Amazônia e, em especial, para o Pará, um dos estados mais biodiversos e estratégicos do Brasil. O mercado de carbono não é apenas uma inovação financeira, mas uma promessa de transformação sustentável, onde preservação ambiental e desenvolvimento econômico se encontram. Vamos explorar de maneira prática e didática como esse mercado funciona, os tipos de carbono e os projetos paraenses que colocam a região na vanguarda dessa transição ecológica.
O que é o Mercado de Carbono?
O mercado de carbono é um sistema que permite a negociação de créditos de carbono, gerados a partir de ações que evitam ou reduzem a emissão de gases de efeito estufa (GEE). Esses créditos representam uma tonelada de dióxido de carbono (CO₂) ou outro GEE que foi reduzido ou capturado, e empresas, governos e instituições podem comprá-los para compensar suas próprias emissões.
Tipos de Mercado de Carbono
Existem dois tipos principais de mercado de carbono:
Mercado Regulado: Governos ou blocos, como a União Europeia, estabelecem limites de emissões para determinados setores. Empresas que emitem menos podem vender seus créditos para aquelas que excedem o limite.
Mercado Voluntário: Empresas e indivíduos podem comprar créditos de carbono para compensar emissões de forma voluntária, geralmente para apoiar práticas sustentáveis ou compromissos climáticos internos.
Os Diferentes Tipos de Carbono
Existem diferentes tipos de créditos de carbono, cada um com suas características e áreas de atuação e impactos. Vamos entender os principais:
Carbono Verde

O carbono verde é gerado a partir de atividades de reflorestamento, manejo sustentável de florestas e práticas agrícolas regenerativas. No Pará, projetos como os de concessão florestal em áreas de proteção ambiental, como a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, são exemplos de iniciativas de carbono verde. Esses projetos restauram florestas degradadas e sequestram toneladas de CO₂, oferecendo uma alternativa econômica ao desmatamento e beneficiando as comunidades locais.
Carbono Azul

O carbono azul está relacionado aos ecossistemas marinhos e costeiros, como manguezais e estuários, que capturam carbono de forma altamente eficiente. Apesar de o Pará ser mais reconhecido pela sua cobertura florestal, seus manguezais na costa norte, especialmente no estuário do Rio Amazonas, que inclui quase todo o Arquipélago do Marajó, a Bacia do Paru, a Costa do Pará e todas as bacias ao sul do Rio Amazonas e o Rio Pará, que representam um importante reservatório de carbono azul, com grande potencial de preservação e pesquisa. Esse tipo de carbono é essencial para o clima global, pois os manguezais absorvem até cinco vezes mais carbono que florestas terrestres.
Carbono Preto

O carbono preto (ou fuligem) não é um tipo de crédito de carbono, mas um poluente gerado pela queima incompleta de combustíveis fósseis. Seu controle é crucial porque ele contribui para o aquecimento global. Em um contexto de mercado de carbono, existem projetos que reduzem emissões de carbono preto, contribuindo indiretamente para o mercado de carbono ao evitar a liberação desse poluente.
O Papel da Amazônia no Ciclo do Carbono
A Amazônia tem um papel importante no ciclo global do carbono, sendo responsável por absorver grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera. Estima-se que a floresta amazônica, sozinha, absorva aproximadamente 12% do CO₂ emitido globalmente. As árvores, principalmente as de grande porte, como a castanheira, são as maiores responsáveis por armazenar esse carbono, funcionando como "pias de carbono" naturais.
Em termos de sequestramento de CO₂ por hectare, as estimativas apontam que, em áreas preservadas, a Amazônia pode sequestrar em torno de 0,19 bilhões de toneladas de CO₂ por ano. Contudo, a crescente destruição da floresta e as queimadas comprometem esse papel vital, transformando áreas de desmatamento em fontes de emissão de gases de efeito estufa. O Pará vem se destacando pela implementação do REDD+ (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação), uma abordagem que valoriza as florestas preservadas ao transformá-las em ativos econômicos. Com o REDD+, o Pará não só preserva áreas significativas da floresta, mas também gera recursos para reinvestir em conservação e em práticas sustentáveis nas comunidades locais.
O Papel do Pará na Preservação e no Mercado de Carbono
O Pará vem se destacando pela implementação do REDD+ (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação), uma abordagem que valoriza as florestas preservadas ao transformá-las em ativos econômicos. Com o REDD+, o Pará não só preserva áreas significativas da floresta, mas também gera recursos para reinvestir em conservação e em práticas sustentáveis nas comunidades locais.
Recentemente, o estado deu um passo significativo ao firmar um acordo com a AMBIPAR Carbon Credit Participações Ltda durante a COP29, realizada em Baku. Esse memorando de entendimento, segundo o governador Helder Barbalho, foi um marco na democratização do mercado de carbono, permitindo que pequenas e médias empresas participassem dessa atividade econômica sustentável. "Estamos criando um ambiente de conciliação entre produção e sustentabilidade, atividades que gerem emprego, renda e desenvolvimento para o nosso país", afirmou o governador.
O secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará, Raul Protázio Romão, acrescentou que o acordo abre portas para a inclusão de diversos setores no mercado de carbono, com destaque para a criação de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), que terá a função de centralizar atividades de avaliação técnica, certificação e comercialização de créditos de carbono, valorizando os ativos ambientais do estado.
Exemplo Local: APA Triunfo do Xingu
O projeto da APA Triunfo do Xingu visa restaurar mais de 10 mil hectares e gerar créditos de carbono, com uma meta de sequestrar aproximadamente 4 milhões de toneladas de CO₂. Este projeto não apenas contribui para a mitigação das mudanças climáticas, mas também gera benefícios diretos para as comunidades locais, como empregos e acesso a novos recursos financeiros.
O Mercado de Carbono Global
Segundo um relatório do Banco Mundial, o mercado de carbono movimentou cerca de USD 851 bilhões só em 2022, com potencial de crescimento à medida que mais empresas e países se comprometem com a neutralidade de carbono. A Amazônia, por sua vez, é crucial para esse mercado. Estima-se que o carbono armazenado nas florestas tropicais da região equivalha a mais de 86 bilhões de toneladas de CO₂, o que torna o bioma amazônico um elemento essencial para as políticas de mitigação climática.
A COP30 e o Compromisso Global com o Mercado de Carbono
A COP30, que será realizada em Belém, representará uma oportunidade para o Pará mostrar suas iniciativas em bioeconomia e mercado de carbono. Espera-se que o evento fortaleça compromissos internacionais em torno do clima e promova o mercado de carbono como uma solução para as emissões globais de GEE. No contexto da COP30, o Pará será um exemplo de como aliar preservação ambiental e desenvolvimento econômico, com práticas que podem ser replicadas por outras regiões florestais ao redor do mundo.
Conclusão
O mercado de carbono representa uma oportunidade vital para o futuro da Amazônia, especialmente no Pará, onde projetos de REDD+ e concessões florestais já começam a gerar créditos e a preservar o bioma. Com o apoio de especialistas e uma estratégia de desenvolvimento sustentável, o estado está se posicionando como um líder mundial em práticas de carbono sustentável. A COP30 será a vitrine desse compromisso, onde o Pará poderá demonstrar como a floresta amazônica pode se transformar em um ativo global, preservando o meio ambiente e beneficiando as comunidades locais.