O poder do mel de açaí: pesquisa revela potencial terapêutico e impacto sustentável na Amazônia

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Estudo inédito desenvolvido no PCT Guamá e na UFPA mostra que o mel produzido a partir das flores do açaizeiro possui propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e pode impulsionar a bioeconomia amazônica.
Foto: Divulgação
Foto: Cristiano Menezes

Mel de açaí: sabor, ciência e floresta em pé

Um dos frutos mais emblemáticos da Amazônia pode ir além da culinária. Uma pesquisa inédita conduzida pelo Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (Cvacba), da UFPA, em parceria com o Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, revelou que o mel produzido por abelhas africanizadas a partir do néctar das flores do açaizeiro possui propriedades bioativas com grande potencial medicinal.

Com apoio de instituições como a Embrapa Amazônia Oriental e a UFMA, o estudo identificou efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, antibacterianos e até antitumorais no produto. Publicada na revista científica internacional Molecules, a pesquisa posiciona o mel de açaí como um produto funcional amazônico com valor agregado e relevância para a saúde e a sustentabilidade.

Comparações com outros méis do Brasil

O mel de açaí foi comparado com méis monoflorais de outras regiões do Brasil, como:

  • Mel de aroeira (MG)
     

  • Cipó-uva (DF)
     

  • Timbó (RS)
     

  • Mangue (PA)

     

O resultado foi expressivo: o mel de açaí apresentou capacidade antioxidante até quatro vezes maior que outros méis reconhecidos, como o de aroeira.

Além disso, o produto se destacou pelas suas características sensoriais únicas: coloração âmbar escura, dulçor moderado e notas de sabor que lembram café.

Foto: Divulgação
Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

Potencial farmacêutico e cosmético

Segundo o pesquisador Nilton Muto, coordenador do estudo, a riqueza do mel está nos compostos presentes em sua composição, como flavonoides e ácidos fenólicos. “Essas substâncias têm potencial para prevenir doenças inflamatórias, cardiovasculares e até cânceres. O mel de açaí se destaca como um produto genuinamente amazônico, com valor funcional e nutricional agregado”, afirma.

Com isso, abre-se caminho para o desenvolvimento de:

  • Fitoterápicos
     

  • Cosméticos naturais
     

  • Alimentos funcionais

     

Segundo Muto, parcerias com empresas já estão sendo planejadas para transformar esse conhecimento em inovação acessível ao mercado.

Biodiversidade que gera renda e conserva a floresta

O estudo também evidencia o papel estratégico do mel de açaí na valorização da biodiversidade amazônica. A presença das abelhas no cultivo do açaí melhora a polinização da palmeira e pode aumentar a produtividade dos frutos em até 30%, o que representa ganho ambiental e econômico.

Outro destaque é a meliponicultura, criação de abelhas nativas sem ferrão, como as espécies Melipona e Trigona, que produzem méis altamente valorizados. A atividade é sustentável, culturalmente enraizada e contribui para a conservação dos ecossistemas amazônicos.

Ciência, inovação e bioeconomia

O estudo foi financiado pelo Fundo Amazônia/BNDES, dentro do projeto Agrobio, e representa um avanço no uso da biodiversidade como motor de desenvolvimento regional. Os dados fornecem base para futuros ensaios clínicos, registro de produtos na Anvisa e inclusão do mel de açaí em cadeias produtivas sustentáveis.

“O objetivo agora é avançar na validação biológica do mel e construir pontes entre ciência e mercado com foco na sustentabilidade”, conclui Muto.

João Weyl, diretor-presidente da Fundação Guamá, destaca: “Este estudo é fruto do compromisso com o desenvolvimento sustentável que gera valor para a sociedade e o meio ambiente. Mostra que é possível produzir e conservar ao mesmo tempo.”

PCT Guamá: referência em ciência e tecnologia na Amazônia

Instalado entre os campi da UFPA e da Ufra, o Parque de Ciência e Tecnologia Guamá é o primeiro da região Norte e abriga mais de 30 empresas residentes, 12 laboratórios e uma escola técnica. É gerido pela Fundação Guamá e promove a inovação baseada na biodiversidade com foco no desenvolvimento sustentável da Amazônia.