29/11/2022 - 15:21

Pesquisa feita por paraenses analisa repercussão de casos de racismo no futebol brasileiro em 2022

Foram analisadas 2655 reportagens entre janeiro e junho de 2022

 

 

Novembro é o mês da Consciência Negra no Brasil e de início da Copa do Mundo do Catar. A mesma data, dia 20, que marca a morte de Zumbi dos Palmares, também assinalou o início da principal competição de seleções do planeta, cercada por uma série de críticas e polêmicas.

 

Não por acaso, o futebol também é cenário de casos de racismo, sejam os alvos atletas, membros de comissões técnicas ou torcedores. Diante desse mal ilógico e anticivilizatório, virar o jogo para uma visão antirracista passa a ser uma missão.

 

Assim, dois comunicólogos paraenses, Artur Araújo e José Calasanz Jr., realizaram uma pesquisa que analisou reportagens publicadas de 01 de janeiro a 30 de junho de 2022, por meio da ferramenta Meltware, “uma das poucas de
monitoramento que coleta e armazena uma quantidade enorme de reportagens em seu banco de dados, sendo uma grande oportunidade para compreender o impacto de cada assunto”, explica Artur, que CEO da Yesbil Consultoria e
Treinamentos em Marketing Digital.

 

Devido a esta amplitude da análise foram identificadas 2655 reportagens com referências a “racismo” e “futebol”. Dentre os casos mais recorrentes, três ganharam destaque:

 

- Internacional (RS) x Corinthians (SP) (Campeonato Brasileiro): o meia colorado Edenilson acusou o lateral português Rafael Ramos de o ter chamado de “macaco”. Edenilson registrou queixa, Ramos foi detido, mas meses depois absolvido. Nenhuma imagem de câmera conseguiu registrar/provar a possível ofensa.

 

- Boca Júniors (ARG) X Corinthians (SP) (Taça Libertadores da América): nos quatro jogos realizados este ano (na primeira fase da competição e nas oitavas), ocorreram referências e denúncias de racismo. Nas partidas realizadas em São Paulo, houve até torcedores argentinos detidos.

 

- Flamengo (RJ) x Fluminense (RJ): em março, ainda pela Taça Guanabara, Gabriel Barbosa, o Gabigol, disse que foi chamado de macaco pela torcida do Fluminense na saída para os vestiários. Semanas depois, houve julgamento e o tricolor absolvido, já que não se provaram as agressões. Já o Flamengo, no mesmo dia, foi punido, mas por homofobia, devido a cânticos da torcida.

 

Nestes três principais casos analisados e em outros encontrados na pesquisa, o termo “macaco” foi a ofensa mais utilizada para hostilizar um atleta, comissão técnica, árbitros, times e torcidas.

 

Os estádios e as redes sociais tornaram-se arenas para expressões racistas e discursos de ódio contra os pretos que compõem o universo esportivo. De acordo com Calasanz, “a identificação de quais ofensas racistas são mais proferidas no futebol mostra que podemos realizar ações e campanhas de combate ao racismo utilizando estes termos de forma estratégica, direcionando o discurso para falar exatamente com quem profere essas palavras e ataques”, sugere o publicitário, que é responsável também pela comunidade Métrica Power.

 

FUTEBOL E RACISMO NO PARÁ

No Pará, raros são os casos de racismo no futebol que ganharam maior repercussão midiática. Um dos que mais foram noticiados ocorreu em 2014, quando o ex-jogador e ex-BBB Hadson Nery, então no Bragantino, foi denunciado pelo ex-zagueiro Yan Rodrigo, da Tuna Luso.

 

De acordo com Yan, ele teria sido chamado de “macaco” e registrou Boletim de Ocorrência sobre o caso, que foi “esquecido” nos últimos anos. Já em outubro deste ano, durante o clássico Remo e Paysandu pelo Campeonato Paraense Feminino, a atacante Silmara, do Bicolor, denunciou que foi ofendida por um torcedor remista.

 

Segundo ela, o torcedor teria a chamado de “macaca”. Imediatamente, como reação, Silmara teve uma crise de choro e foi amparada pelas companheiras. Apesar da repercussão, não houve registro de Boletim de Ocorrência sobre o caso. Ainda no cenário regional, cabe destacar que em todas as partidas da Copa Verde neste ano foi possível ver também placas da
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) com campanha contra a LGBTQIA+fobia e também antirracista.

 

A medida, ainda que tímida, pode ajudar a fomentar novas possibilidades e, quem sabe, conscientização de torcedores que, infelizmente, são os principais agentes (visivelmente) de reprodução de práticas racistas. A pesquisa desenvolvida por Artur, da Yesbil, e Calasanz, da Pense Play, pode colaborar também na percepção e mesmo ação dos profissionais da mídia não apenas diante dos casos, mas de como reportá-las.

 

“No Jornalismo, assim como na Publicidade, por muito tempo se viveu de achismos e ficamos presos em nossas bolhas. Então, quando um jornalista tenta analisar qual pauta é relevante e quais as formas de se abordar aquele assunto, fica preso a poucos exemplos mais ‘famosos’ ou de outros jornalistas. Com pesquisas como esta, a construção dos conteúdos pode ir mais além, seja no Jornalismo ou na Publicidade”, finaliza Artur.

 

Foto: divulgação

 

Por: Mateus Miranda

 

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