15/05/2023 - 17:02

Mulheres com doutorado crescem, mas são minoria na docência


 

 

Um levantamento da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) mostra que o crescimento do número de mulheres com doutorado não tem sido acompanhado pelo mesmo aumento de mulheres na docência. O estudo é do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), apoiado pelo Instituto Serrapilheira, e classifica essa diferença de 'efeito tesoura', expressão que busca designar um mecanismo de corte da presença das mulheres na ciência: mesmo tendo estoque de doutoras disponível, elas são minoria em determinadas funções, como por exemplo, a docência.

De acordo com o levantamento, na área de ciências agrárias, a paridade de gênero no último estágio da pós-graduação (doutorado) já foi alcançada, com 51% de doutoras. Mas apenas 25% dos docentes permanentes nas universidades do país são mulheres. Em zootecnia e recursos pesqueiros, o fenômeno se repete: 52% dos doutores titulados são do sexo feminino, mas apenas 36% do corpo docente é de professoras. Para os pesquisadores, isso significa que as mulheres formadas nessas áreas não estão chegando ao topo da carreira.


Há casos como o da área de ciências biológicas, que apresenta paridade de gênero entre os docentes, com quase 50% de mulheres professoras em programas de pós-graduação. Mas esse percentual é bem inferior à presença de doutoras formadas, que é próxima de 70%. Trata-se, portanto, de um cenário de maior equilíbrio entre os gêneros, mas com algum efeito tesoura.

Por outro lado, a área de ciência da computação tem uma das menores proporções de mulheres tanto no corpo docente (cerca de 20%) quanto entre os doutores (apenas 18%). Segundo o pesquisador, aqui não há, portanto, que se falar em “efeito tesoura”, já que a proporção de professoras é próxima à de doutoras. O problema é outro -- a baixa presença de mulheres em geral -- e indica, por exemplo, que as políticas para a diversificação dessa área devem investir tanto na contratação de professoras mulheres quanto na formação de mais doutoras.

“O desenho e a implementação de políticas públicas para garantir a igualdade de gênero na ciência precisam de dados robustos que revelam as discrepâncias entre as diversas áreas do conhecimento e sinalizam os pontos críticos a serem tratados”, afirmou Cristina Caldas, diretora de Ciência do Instituto Serrapilheira, em nota.

Além disso, outras áreas alcançaram a paridade de gênero, tanto na docência quanto no nível de doutorado, sem efeito tesoura. É o caso de arquitetura e urbanismo (53% de doutoras e 51% de professoras permanentes), história (47% de doutoras e 45% de professoras permanentes) e artes (48% de doutoras e 51% de professoras permanentes).

Segundo destaca o coordenador e pesquisador do Gemaa, Luiz Augusto Campos, que é apoiado pelo Instituto Serrapilheira, “o fato de uma área não sofrer efeito tesoura não quer dizer que ela tenha um cenário de equidade”. “Ao
contrário, áreas com sub-representatividade feminina similar na discência e na docência são as que mais precisam de atenção. O que essa análise ajuda a entender é sobre quais grupos as políticas de equidade devem atuar”, disse o
coordenador.

Metodologia
O estudo se baseou em dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O Gemaa agrupou informações de docentes com vínculo permanente na pós-graduação e discentes titulados como mestres ou doutores entre os anos de 2004 e 2020, o que totalizou 3.904.422 casos durante o período. Depois, foi atribuído gênero a 3.761.970 casos (96% da base), que permite extrair o sexo presumido do indivíduo a partir de um nome. Os 4% restantes correspondem a nomes raros.


Segundo o Gemaa, é importante destacar que essa classificação tem a limitação de ser binária. O grupo de estudos ressalta que ainda não há recursos para alcançar esse grande montante de acadêmicos por outros meios.



Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Por: Avelina Castro, com informações de Ana Cristina Campos/Agência Brasil

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