Quando a literatura encontra a maternidade real: livro "Mãezinha" emociona ao narrar nascimento prematuro e desafios no SUS
Obra de autora paraense Izabella Cristo retrata com lirismo e coragem a jornada de uma mãe na UTI neonatal, ampliando o debate sobre maternidade, saúde pública e fé.

A literatura paraense ganha um novo olhar com o lançamento do livro Mãezinha, que mergulha de forma poética, profunda e realista no universo da maternidade vivida dentro de uma UTI neonatal.
Vencedor do Prêmio Caminhos de Literatura, o romance mistura um relato real com prosa poética para contar a jornada de uma mãe em uma obra, escrita a partir de uma vivência pessoal de nascimento prematuro extremo, que é um testemunho sensível e impactante que dialoga diretamente com temas urgentes como saúde pública, fé, ancestralidade e o poder feminino.
O encontro acontecerá no sábado, 24 de maio, a partir das 18h, na Livraria Travessia (Avenida Alcindo Cacela, 1404), com direito a bate-papo, sessão de autógrafos, partilha com a autora e venda de livros. A entrada é gratuita.

A protagonista da narrativa não tem nome. Ela poderia ser qualquer mulher atravessada pela dor, pela luta e pela esperança dentro do sistema público de saúde. O livro nasce da experiência real de uma mulher paraense cujo filho veio ao mundo com apenas 25 semanas e menos de 700 gramas. Durante 96 dias, ela viveu a rotina de uma UTI neonatal, em que a maternidade é vivida com medo, coragem e oração.
“A gente pode começar a sofrer antes mesmo de nascer”, diz um dos trechos do livro, que mistura relato autobiográfico com prosa poética e linguagem simbólica para dar voz a tantas mães silenciadas pela rotina hospitalar.
Mãezinha não é apenas um livro. É um manifesto emocional sobre o que significa ser mãe no Brasil profundo, sobrecarregado de fé e carente de estrutura. As páginas ressoam como orações e súplicas, mas também como denúncias da frieza institucional com que muitas mulheres são tratadas em momentos de grande vulnerabilidade.
“Nascer dói. Mas não tem anestesia para a vida”, escreve a autora, ao descrever o parto como um rito de passagem físico e espiritual.
O título da obra faz alusão à forma como as mães são chamadas dentro das unidades neonatais: “mãezinha”. Um vocativo aparentemente carinhoso, mas que também pode carregar a despersonalização de quem passa a existir apenas como acompanhante de um bebê internado.
Ao trazer esse título à tona, a autora busca ressignificar o termo, emprestando a ele potência, dignidade e memória. O livro é também um gesto de escuta e acolhimento às mulheres que enfrentam jornadas invisíveis pela sobrevivência de seus filhos.
Embora seja ancorado em uma história real, Mãezinha tem um apelo universal. Qualquer mulher que tenha gerado, parido ou cuidado pode se identificar com a vulnerabilidade, a entrega e a fé que marcam cada linha do livro.
Escrito com ritmo de oração e intensidade de denúncia, a obra encontra no próprio corpo da autora o território da escrita. Em suas palavras, “é o corpo que sangra, que ora, que gesta, que escreve”.
Sobre a autora:
IZABELLA CRISTO é escritora, mãe e médica-cirurgiã. Nasceu em Belém do Pará, mas atualmente mora em São Paulo. É membra da Sociedade de Médicos Escritores e do grupo Ninho de Escritores, projeto de acolhimento e desbloqueio em escrita afetiva. Participou das coletâneas de crônicas Retratos da quarentena e Vida nada moderna (Prêmio Mozart Pereira Soares 2020). mãezinha, romance vencedor do Prêmio Caminhos de Literatura 2024, é seu primeiro livro solo.
A publicação foi viabilizada por meio do Edital de Fomento à Literatura da Fundação Cultural do Pará, com recursos da Lei Paulo Gustavo. Além do lançamento presencial, a autora prepara conteúdos visuais e sonoros sobre a obra que estarão disponíveis em breve no perfil @soumaezinha.
Mãezinha é mais do que um livro — é um gesto de memória, afeto e resistência.