Parceria entre Brasil e Suíça reúne diversas startups em prol da bioeconomia

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Esta reportagem faz parte da Série Especial "Empreendedorismo Sustentável - soluções e desafios para o futuro do planeta", da Rádio Cultura FM
Foto: Reprodução / Freepik.

A Swissnex é uma rede global que conecta a Suíça com o mundo através da pesquisa, educação e inovação, sempre com um viés sustentável. Bianca Campos, representante da empresa no Brasil, ressalta a missão desta rede de centros avançados de educação, pesquisa, inovação e arte.

“A ideia hoje é dar o pontapé inicial para esse programa de conexão. A gente tinha aqui sete startups da Suíça e sete do Brasil, pesquisadores, etc. A ideia é a conexão com o ecossistema local”

É com esta missão, de se conectar com o ecossistema local, que a Swissnex realizou o evento Nextbio Amazônia, com o objetivo de, através da união de startups suíças e brasileiras, realizar networking e fazer com que as empresas tenham uma oportunidade de entender o mercado e experimentar perspectivas, paisagens e culturas únicas para o desenvolvimento de projetos inovadores. Lauro Barata, consultor de bioprodutos e diretor da empresa In Amazon, destaca a importância desta união entre dois países interessados em promover a sociobioeconomia.

“Porque assim nós podemos levar o nome da Amazônia mais longe. Normalmente, o território amazônico só é conhecido no exterior pela destruição da floresta. O que nós queremos mostrar é que, desta natureza, nós podemos fazer produtos alimentares, cosméticos, farmacêuticos. Nós da In Amazon, minha startup apoiada pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), utilizamos resíduos da floresta como matéria-prima”, constata.

Iniciativas Sustentáveis

A In Amazon utiliza toda a serragem da região oeste do Pará para produzir biocosméticos através da extração de substâncias antioxidantes, que protegem a pele dos raios solares e de radicais livres. As startups do Nextbio Amazônia tiveram uma aula de antropologia, como uma forma de conectar as empresas suíças e de outros estados do Brasil às tradições da região. O programa Nextbio teve duração de duas semanas e, no encerramento, contou com uma competição de pitches, onde uma startup suíça e uma brasileira foram premiadas com a participação no programa AIT, Academia Industry Training. E o vencedor do ano de 2024 foi a Amaztrace, que fornece soluções de rastreabilidade sob medida para várias cadeias de suprimentos. Este tipo de serviço consiste na capacidade de acompanhar e documentar o histórico, a aplicação e a localização de um produto, processo ou evento, desde a origem até o consumidor final, através de dados registrados. Eles trabalham para uma grande variedade de empresas, desde pequenas fazendas até corporações globais. Marco Failache Filho, CTO da Amaztrace, em comentário nas redes sociais, fala sobre a experiência de participar do evento e a sensação de fazer parte da startup premiada.

“Foi muito bom, um programa totalmente pensado para agregar valor à bioeconomia. Foi até mais do que nós esperávamos. Independente de vitória, de ganhar o pitch final, foi um percurso muito bonito, muito bacana, onde conhecemos startups sensacionais do Brasil e da Suíça. Criamos muitas conexões e identificamos qual vai ser nossa estratégia de mercado nos próximos meses. É uma sensação muito emocionante estar aqui com a minha equipe”, comenta.

Não só as startups, mas instituições de fomento como a Fapespa, representantes da UFPA, empreendedores locais, pesquisadores, pessoas do setor privado que têm interesse em parcerias fizeram parte deste ecossistema de inovação, pesquisa e de expertises locais.

Foto: Marco Failache / Redes Sociais.
Inovação

O Pará é muito rico em empreendimentos que utilizam matérias-primas regionais e estimulam a bioeconomia. Um grande exemplo disso é a AMZ Tropical, que fabrica gins feitos com produtos oriundos do estado, através da união dos melhores botânicos da Amazônia. As bebidas alcoólicas mais conhecidas da empresa são os gins de jambu e o de castanha-do-pará, produzidos de forma sustentável e fruto de um modelo de inovação regenerativa, que foca em soluções que não apenas resolvam problemas, mas também promovam a regeneração de sistemas sociais e ambientais. O paraense Leandro Daher, fundador da AMZ Tropical, enquanto estudava sobre destilação, pensou, inicialmente, em fazer uma cachaça, plantou cana na fazenda do sogro e se preparou para lançar o produto, mas a época da colheita coincidiu com a pandemia da Covid-19 e a realização do tão esperado sonho teve de ser adiada. Entretanto, esse tempo serviu para que ele estudasse mais e conseguisse pensar em uma ideia ainda mais autêntica e inovadora: a criação do primeiro gin de jambu da Amazônia, já que a cachaça já era algo consolidado e benquisto pelas pessoas. Depois do lançamento do gin de jambu, que foi um grande sucesso, ele teve a ideia de criar outra bebida com uma matéria-prima que surgiu aqui no estado: o gin de castanha-do-pará. Leandro Daher conta como foi o processo de criação da loja física, localizada na Avenida Brás de Aguiar, número 312, no bairro de Nazaré, em Belém.

“Quando a gente soltou a fachada, a garrafa, a logomarca, já começou um burburinho. Nós fizemos um ‘soft-open’ com os quatro melhores bartenders de Belém, cada um fez um drink autêntico com jambu e castanha. Até então, a gente nunca tinha feito loja física, sempre foi indústria. O foco foi trazer uma experiência amazônica e diferenciada para o cliente poder viver tudo que a AMZ Tropical pode proporcionar”, relata.

Foto: Leandro Daher / Redes Sociais.
Reconhecimento

A AMZ Tropical não só cativou o público como conseguiu um reconhecimento em todo o Brasil. O gin com castanha-do-pará foi premiado no principal concurso nacional de destilados, o New Spirits, em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais. O empreendimento faz parte da Associação dos Negócios da Sociobioeconomia da Amazônia, a Assobio, que representa pequenos e médios negócios cuja cadeia produtiva e estratégia de impacto se baseiam na economia verde, com a prioridade de preservar o bioma e o bem-estar do povo. A Assobio, que possui parceiros nacionais e internacionais de renome, já gerou mais de seiscentos empregos, possui 75 empresas associadas, já impactou mais de cinquenta mil hectares e possui mais de quarenta e dois milhões de reais em faturamento total.

Esta é uma iniciativa alinhada com os princípios da Conferência das Partes, a COP, principal evento de combate às mudanças climáticas no mundo, organizado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas. Embora seja internacional, o fato de a trigésima edição acontecer na capital paraense traz um acúmulo de pautas interessantes, como adaptação climática, que tem a ver com investimento em infraestrutura nos países em desenvolvimento, e também traz atenção e foco para os problemas do país, como explica Paulo Reis, diretor da Assobio.

“E nesse sentido, a gente também está deixando muito claro, com todos os empreendedores da Assobio, como o nosso trabalho contribui para o combate ao desmatamento e para qualificação do uso do solo e preservação da biodiversidade, o que contribui para a criação de uma economia verde que consegue suprir os problemas socioeconômicos e ambientais que temos”

A principal importância do empreendedorismo sustentável é promover um desenvolvimento econômico que respeita os limites do planeta e gera valor para a sociedade e meio ambiente, ao mesmo tempo que garante a viabilidade financeira da empresa. O verdadeiro sucesso deste tipo de empreendedorismo está em gerar valor não só para o mercado, mas para o mundo que queremos deixar para as próximas gerações.

Confira o 2º Episódio da "Série Empreendedorismo Sustentável - soluções e desafios para o futuro do planeta", da Rádio Cultura (93,7 FM)