Produção de dendê no Pará busca equilíbrio sustentável

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Modelo agroflorestal reduz impactos ambientais e aumenta a produtividade em Tomé-Açu, nordeste do estado.
Foto: Divulgação
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O Pará, responsável por 90% da produção de dendê no Brasil, enfrenta um dilema: como manter a atividade sem comprometer o meio ambiente? O cultivo tradicional, baseado na monocultura, tem sido apontado como um dos fatores de desmatamento na região. No entanto, um novo modelo de produção vem ganhando força e oferecendo uma alternativa mais sustentável: o cultivo em sistemas agroflorestais (SAFs).

Essa abordagem combina o dendezeiro com diversas espécies agrícolas e florestais, trazendo benefícios ambientais e econômicos. Além de reduzir a necessidade de novas áreas para plantio, o SAF melhora a qualidade do solo, contribui para o equilíbrio ecológico e pode até superar a produtividade dos sistemas convencionais.

Modelo agroflorestal melhora solo e reduz impacto ambiental

Estudos da Embrapa mostram que os SAFs garantem melhor aproveitamento da terra, permitindo que o dendê seja cultivado junto a espécies como cacau, açaí, andiroba e ipê rosa. Essa diversidade traz benefícios importantes:

  • Redução do desmatamento, pois evita a abertura de novas áreas para o plantio.

  • Melhoria da qualidade do solo, com maior retenção de nutrientes.

  • Aumento da biodiversidade, criando um ambiente mais equilibrado.
  • Menor incidência de pragas e doenças, reduzindo o uso de defensivos químicos.

Os estudos da Embrapa indicam que o dendê cultivado em SAFs apresenta vantagens importantes. A produtividade pode chegar a 180 kg de cachos de fruto por planta, enquanto no monocultivo esse número é de 139 kg. Além disso, o rendimento do óleo extraído dos frutos também é maior, atingindo uma média de 24,7%, contra os 18% a 22% observados no sistema tradicional.

Patrícia Mie Suzuki, doutoranda em Engenharia Florestal e produtora rural no Pará, testemunhou de perto essa mudança. Sua família, que faz parte da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA), adotou o SAF depois de uma grande perda na safra de pimenta-do-reino. O novo modelo permitiu não apenas a diversificação da produção, mas também maior estabilidade econômica e ambiental.

“A convivência entre diferentes espécies funciona como um controle natural para pragas e doenças, já que muitas só atacam determinadas plantas. Além disso, as árvores ajudam a melhorar a qualidade do solo e da água da propriedade, contribuindo para a adaptação às mudanças climáticas”, explica Patrícia.

Outro benefício é a geração de renda em diferentes momentos, já que o produtor pode comercializar espécies de crescimento rápido enquanto aguarda o retorno financeiro do dendê e de árvores de longo prazo.

Experiência no Pará mostra viabilidade do novo modelo

O SAF desenvolvido pela família Suzuki combina o dendezeiro com mais de 15 espécies nativas, como cacau, açaí, andiroba e ipê rosa. Além disso, abelhas sem ferrão foram introduzidas para auxiliar na polinização e na produção de mel. A diversidade vegetal cria um ambiente mais equilibrado, favorecendo a presença de pássaros e outros animais que utilizam o sistema como corredor ecológico.

“As árvores amenizam a temperatura neste momento de calor extremo. Também percebemos vantagens para o solo, pois a deposição de matéria orgânica permite a ciclagem de nutrientes, deixando a produção mais saudável”, destaca Patrícia.

Foto: Divulgação
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O Brasil já conta com o Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma, que incentiva o cultivo do dendê em áreas degradadas para minimizar a necessidade de abrir novas áreas de floresta. A experiência da família Suzuki reforça que os SAFs podem tornar essa produção ainda mais equilibrada e sustentável.

Engajamento de jovens produtores pode acelerar mudança

Para que mais agricultores adotem esse modelo, a campanha "Mãos da Transição" foi lançada com o objetivo de sensibilizar jovens produtores a adotarem práticas agrícolas mais sustentáveis. Criada pela agência de causas Purpose, a iniciativa oferece treinamentos, cartilhas e divulgação em redes sociais, principais meios de comunicação desse público.

“A ideia é fortalecer os negócios das famílias e, ao mesmo tempo, preparar os produtores para os desafios ambientais do século 21”, afirma Patrícia.

O avanço dos SAFs no Pará mostra que é possível conciliar a produção de dendê com a preservação ambiental. A diversificação do cultivo e o uso de técnicas agroflorestais podem transformar o setor, tornando-o mais resiliente e equilibrado para as próximas gerações.